Por mais que o teatro de rua seja uma manifestação de diálogo próximo e, muitas vezes, inesperada às pessoas que por ali circulam, em virtude da falta de incentivo do poder público, os pelotenses não estão muito acostumados a presenciar este tipo de apresentação artística pela cidade. Entretanto, esse estranhamento dura o tempo de alguns segundos que, rapidamente, são conquistados pelo carisma dos artistas que estão ali levando a sua arte ao contato mais democrático com o seu público.
Os fatos que estou relatando se referem à apresentação do espetáculo “João Cheroso e João do Céu Vendendo Cordel”, apresentado pelo grupo Eureca, oriundos do Amapá, com texto e direção de Joca Monteiro que também atua ao lado de Elder de Paula para contar as histórias dos dois personagens. A peça conta as aventuras de dois retirantes nordestinos que saem pela Amazônia em busca de melhores condições de vida. Ao chegarem em Macapá (AP), descobrem que Luiz Gonzaga também já havia estado por lá e composto músicas em exaltação à cidade. Por esse motivo, resolvem declamar em forma de cordel a história do famoso “Rei do Baião”.
Os espectadores pelotenses já estariam felizes somente pela vinda de artistas de uma região tão distante do país trazendo seu espetáculo à cidade. Porém, o contato com uma estética tão diversa da comumente observada no Rio Grande do Sul e o universo do cordel já podem ser considerados como ganhos para as pessoas que ali estavam assistindo ao espetáculo. Entretanto, gostaria de salientar um fato que me chamou muito a atenção. Não me centrarei tanto no trabalho dos atores, mas sim, na maneira pela qual se deu a recepção do público.
Por mais que o sotaque dos atores fosse diferente, que a maneira de contar histórias não fosse a mesma dos gaúchos, o sorriso e o interesse da plateia conseguiu desviar o meu foco. Percebi que o público se mostrava muito interessado, participativo e, principalmente, identificado com aquele evento que estava ali acontecendo no meio da praça. As pessoas esqueciam a diversidade de acontecimentos que transcorriam na rua e mergulharam no universo teatral, de uma maneira que costumamos observar nas casas de espetáculos fechadas.
Portanto, para finalizar esse texto, gostaria de explicitar que neste domingo 05 de agosto de 2012, quando o teatro invadiu à Bento, com duas peças de teatro, quem lucrou foi a população pelotense com a possibilidade de apreciar o trabalho desses profissionais que vieram de muito longe para trazerem a sua arte até esta cidade. Além disso, ressalto a importância do trabalho executado pela atriz Aline Maciel e sua equipe na organização do I Festival de Inverno de Pelotas, a todos eles faço minhas reverências e agradecimentos por essa iniciativa. Oxalá que este seja o primeiro passo de muitos outros que ainda venham a acontecer! Porém, para os próximos, espero que o poder público, empresariado e mídia local não limitem os seus esforços e investimentos para que a população pelotense tenha cada vez mais acesso às artesem geral.
MSc.Vagner Vargas
DRT – Ator – 6606 -Integrante do CCETP.
vagnervarg@yahoo.com.br
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